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Publicado: 04/11/2015

Cooperativismo é a mais poderosa ferramenta de inclusão social

Quando ainda era estudante de medicina em Uberaba, o jovem Paulo Frange tinha o sonho de exercer um trabalho que alcançasse o maior número possível de pessoas. Tudo indicava que esse desafio estava na medicina, onde o cardiologista e administrador hospitalar foi de inquestionável relevância. Mas um convite inesperado o levou à Câmara dos Vereadores de São Paulo - e nela permanece desde 1997. Na vida pública, mas sem abandonar seu consultório, o médico mineiro sente que está realizando o sonho da juventude. Na Câmara, tem destacada atuação em favor das questões de saúde e do cooperativismo. Ele mesmo um cooperativado médico, Frange conta nesta entrevista como o sistema de cooperativas pode transformar o país, realizando de fato a inclusão social. 
 
EasyCOOP - Quem era Paulo Frange antes de se tornar vereador?
 
Paulo Frange - Eu sou nascido em Uberaba e fiz medicina na Universidade Federal do Triângulo Mineiro, uma das universidades mais importantes do país, que foi criada por Juscelino Kubitschek. Assim que terminei o sexto ano, vim para São Paulo fazer residência médica em cardiologia no Instituto Dante Pazzanese, pois era um sonho poder trabalhar com o dr. Adib Jatene. Por uma coincidência do destino, acabei sendo convidado para trabalhar na Sociedade de Beneficência São Camilo, da Pompeia, ainda em 1977, 1978. Em pouco tempo assumi a direção do serviço de cardiologia do hospital. Lá, aceitei um desafio: o de transformar um prédio abandonado em Santana em um pronto-socorro que pudesse atender toda aquela região. Nos quase 20 anos em que fui diretor clínico daquela unidade, conseguimos ser vanguarda na assistência médica da zona norte. Mesmo assim, consegui manter meu consultório, como era minha vocação desde o início. E estou perto dos meus 40 anos de medicina em São Paulo, com cerca de 50 mil pessoas atendidas.
 
EasyCOOP - E como se deu a sua entrada na política?
 
Paulo Frange - Em 1996, eu era médico de Francisco Rossi, então candidato à Prefeitura pelo PDT. Ele pediu que eu fizesse um projeto de saúde para São Paulo que pudesse dar uma solução para o PAS, que era o modelo de cooperativa médica criado pelo governo Paulo Maluf, mas que não estava muito alinhado à política de saúde do município. Tínhamos de encontrar um mecanismo para solucionar as falhas do sistema, sem impacto para a população. Era essa a bandeira que Rossi gostaria levar. Quando Francisco Rossi percebeu que suas chances eram pequenas (Celso Pitta foi o prefeito eleito), sugeriu que eu fosse candidato a vereador, pois assim poderíamos levar as propostas para a saúde à Câmara dos Vereadores. Assim eu fiz, mesmo sem experiência política e apenas trabalhando por saúde. Hoje, fazemos o máximo possível para representar uma parcela importante da cidade de São Paulo, principalmente os segmentos que precisam da presença do poder público. Até hoje, tudo o que fiz foi com muita intensidade. Acredito que a receita do sucesso é trabalhar com muito foco, visão de futuro, envolvimento e nunca trabalhar sem planejamento.
 
EasyCOOP - O senhor mesmo é um cooperado. Então gostaríamos de saber, da sua experiência, o que é um cooperado. 
 
Paulo Frange - Quando falamos em trabalho, falamos em bem-estar social. Quem não tem como prover as necessidades de sua família se sente humilhado. Mas nós temos no Brasil, formalizado desde 1971, o cooperativismo, que é uma possibilidade de as pessoas se unirem para fazer o mesmo trabalho e onde nenhuma delas tem patrão. E o fato de não ter patrão traz o sonho de todo brasileiro, que é ter o seu negócio próprio. O cooperativismo deu muito certo. Hoje, na medicina, por exemplo, não há como dissociar o Brasil da figura do cooperativismo médico. Hoje, o Brasil tem 50 milhões de pessoas com convênio médico. Desse total, 20 milhões são atendidos pelo sistema médico cooperativado, que está em todo o Brasil. Todos os discursos de presidentes da República falam na inclusão social. Então a gente podia dizer para esses presidentes que se eles podem usar a figura do cooperativismo como a ferramenta mais poderosa de inclusão social. Se nós pudermos fomentar, ajudá-los a se estruturar e fazer com que eles possam ser incluídos dentro do processo de gestão do poder público, eu não tenho a menor dúvida de que teremos muito menos pessoas trabalhando na informalidade ou desempregados. Há pouco tempo nós vimos o Brasil melhorar as condições de pobreza, fazendo com que as pessoas recebam o seu Bolsa Família e outras contribuições que foram criadas no âmbito social. Mas agora é o momento de fazê-los aprender a pescar. Isso se faz criando grupos de pessoas com a mesma afinidade e até daqueles egressos do sistema penitenciário, que têm dificuldade para conseguir trabalho. Em Sorocaba, há um exemplo muito bom (ver reportagem nesta edição), onde os egressos do sistema penitenciário se juntaram para cuidar de praças, de ruas. Eles estão levando para casa dinheiro que é fruto do seu trabalho, do seu suor.
 
EasyCOOP - Como funciona, do ponto de vista de quem contrata uma cooperativa?
 
Paulo Frange - Quando alguém tem esse trabalho contratualizado, nós já sabemos que a primeira coisa que deixa de existir são os problemas. Não existe o problema de faltas. Os cooperados se substituem quando alguém falta. Eles montam escalas e se utilizam uns dos outros para cobrir eventuais ausências. Eu não preciso ficar preocupado com substituição, pagamento de hora extra ou demissão. Eles se resolvem entre si. Quando contratamos cooperativas, sejam elas de qualquer natureza, esquecemos todos os problemas. E quem contrata deixa de ter uma máquina de acompanhamento de gestão de terceiros.
 
EasyCOOP - O que o senhor tem feito pelas cooperativas aqui na Câmara?
 
Paulo Frange - Aqui na Casa fizemos recentemente um trabalho muito importante para a saúde. As cooperativas médicas eram tributadas de uma maneira selvagem. Na verdade, eram bitributadas. Recebiam tributação sobre o valor bruto do seu faturamento. Isso é quase como incluir um sócio no processo. Os 2% cobrados sobre o bruto é um estrago numa relação onde o sistema de saúde suplementar tem uma sinistralidade elevadíssima e, portanto, a margem é muito pequena. O entendimento estava absolutamente equivocado. Então, nós conseguimos desonerar desses 2% tudo aquilo que não era para ser tratado na forma de tributos sobre serviços. Os outros segmentos médicos foram beneficiados por essa mudança, mas as cooperativas foram as que mais se beneficiaram. Foi um trabalho que demandou muito convencimento e demorou muitos anos. E há outros casos semelhantes, em cooperativas de outras naturezas, onde há uma falta de entendimento do Código Tributário. 
 
EasyCOOP - O que o senhor pretende fazer pelo futuro do cooperativismo?
 
Paulo Frange - Estamos levando para o prefeito, para que ele possa determinar à Secretaria do Trabalho um caminho no sentido da inclusão, no programa de trabalho da própria secretaria, da figura do fomento das atividades cooperativadas. Vou dar um exemplo disso: por que temos de comprar uniforme escolar por licitação, a um custo certamente muito mais alto do que se tivéssemos fazendo nosso uniforme aqui, nas mãos de mulheres que também são mães e veem para onde estão indo esses uniformes? Compramos de empresas que vendem e nem são de São Paulo. Não geram empregos. São empresas poderosíssimas e muito grandes. E o processo licitatório é uma caixa de surpresa. E, na hora de colocar o uniforme na criança, a mãe vê que o tamanho não está de acordo com a idade do seu filho. São Paulo tem, ao longo de sua periferia, mulheres muito competentes para isso. A ideia é termos cooperativas contratadas por cada delegacia de ensino. O custo seria bem menor, as roupas seriam mais adequadas e teríamos geração de emprego. Estamos falando de 1 milhão de alunos que ganham uniforme. É muito dinheiro que seria distribuído nas periferias de São Paulo. Isso gera um impacto imediato no comércio dessas regiões. Eu dei um exemplo só, mas ele acaba por justificar todos os outros. O prefeito Fernando Haddad é entusiasta do sistema e eu não tenho a menor dúvida de que em breve nós vamos tratar esse assunto na Secretaria do Trabalho, já com orientação do governo. 
 
EasyCOOP - Quais são os seus sonhos?
 
Paulo Frange - Nós não vamos deixar de sonhar nem desistir dos sonhos. Nosso objetivo sempre foi fazer alguma coisa que pudesse alcançar muita gente. E a política é o veículo. É o instrumento da sociedade ao escolher alguém que possa representá-lo, para que (esse alguém) possa multiplicar as ações de interesse da sociedade.


Fonte: Revista EasyCOOP

 

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